ISO 50001: em busca de maior desempenho energético

Para Leonardo Martins, da ABNT, recém-lançada norma internacional de gestão de energia trará impactos no custo e no monitoramento energético, além de contribuir para redução das emissões de gases de efeito estufa

Carolina Medeiros, para o Procel Info

Organizações de todos os tipos e tamanhos podem estabelecer planos e metas sobre a melhor forma de consumir energia nas suas rotinas. Após a publicação da ISO 50001, empresas públicas ou privadas poderão, através de uma gestão sistemática de energia, reduzir a emissão de gases de efeito estufa e outros impactos ambientais, o custo da energia, além de monitorar e influenciar todos os aspectos que afetam seu desempenho energético.

O processo de desenvolvimento da norma, de acordo com Leonardo Martins, secretário do ISO/TC 242 Gestão de Energia da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), envolveu 47 países e uma variedade de interesses sobre o tema. Segundo ele, a contribuição desses diversos países fez com que a norma fosse criada a partir de uma visão global sobre gestão da energia. Alguns países, como China, França, Áustria e Índia, já começaram a utilizar a ISO e relatam ganhos significativos trazidos com a aplicação da norma. Leia abaixo a entrevista completa que Leonardo Martins concedeu ao Procel Info.

Procel Info – Qual o principal objetivo da ISO 50001?

Leonardo Martins – A ISO 50001:2011, Energy management systems – Requirements with guidance for use, foi desenvolvida com o objetivo de fornecer a organizações de todos os tipos e tamanhos, requisitos para a implantação de um sistema de gestão de energia (SGE) voltado para a melhoria continua do desempenho energético, incluindo eficiência, uso e consumo.

Usuários não têm controle sobre preços, políticas ou economia global, porém, podem estabelecer planos e metas sobre a melhor maneira de consumir energia nas suas rotinas. Com a implementação da ISO 50001, organizações, tanto públicas quanto privadas, poderão, através de uma gestão sistemática de energia, reduzir a emissão de gases de efeito estufa e outros impactos ambientais, o custo de energia, monitorar e influenciar todos os aspectos que afetam seu desempenho energético.

Procel Info – Como foi o processo de produção de uma norma internacional de gestão de energia, levando em conta as diferenças entre os países?

Leonardo Martins – O processo de desenvolvimento da ISO 50001 foi bastante trabalhoso tendo em vista a quantidade de países envolvidos (47) e a variedade de interesses sobre o tema. Apesar dessa pluralidade, os especialistas envolvidos tinham consciência da importância do documento para a sociedade em geral e, por isso, foi possível desenvolver um trabalho conciso, coeso e eficiente, o que possibilitou publicar a norma dentro do prazo estipulado (três anos).

Procel Info – Brasil e Estados Unidos foram os países que mais contribuíram para a produção da ISO 50001. Quais foram as contribuições do Brasil para o projeto?

Leonardo Martins – Na verdade, a maioria dos países envolvidos contribuiu de maneira efetiva para o desenvolvimento da ISO 50001, com destaque para o Reino Unido, Japão, Irlanda, Argentina, Suécia, Dinamarca e China, além, é claro, de Brasil e Estados Unidos, mencionados na pergunta. Essa diversidade, característica fundamental dos trabalhos na ISO, faz com que a 50001 seja uma norma Internacional criada a partir de uma visão global sobre gestão de energia.

Os especialistas brasileiros participaram ativamente de todas as fases da construção da ISO 50001, contribuindo de maneira bastante produtiva através de comentários, propondo alterações no texto, que foram desenvolvidos através do consenso em debates sobre o documento e na participação em reuniões internacionais.

É fundamental enfatizar a importância do trabalho desses especialistas para o Brasil, pois são eles que, por atuarem na área de energia e terem conhecimento notório sobre o tema, estabeleceram e defenderam a posição e interesses brasileiros em diversos debates realizados ao longo de todo o processo de desenvolvimento do documento.

Procel Info – É possível identificar os setores que serão mais beneficiados com a publicação da norma em termos de eficiência energética?

Leonardo Martins – É difícil identificar setores específicos que serão mais beneficiados, pois a estrutura da ISO 50001 foi desenvolvida com a finalidade de ser utilizada por qualquer tipo de organização que almeje melhorar seu desempenho energético.

É gratificante poder afirmar, em uma análise mais abrangente, que a sociedade em geral será a maior favorecida pela ISO 50001, pois os benefícios gerados por uma gestão mais responsável da energia são incontáveis.

Procel Info – Que mudanças terão que ser realizadas nas organizações no que diz respeito ao gerenciamento da energia?

Leonardo Martins – As mudanças dentro das rotinas de uma organização irão variar bastante de acordo com o tipo, tamanho, área de atuação, dentre outros fatores. Porém, é possível citar alguns pontos fundamentais para a implantação da ISO 50001: política energética apropriada; foco em usos significativos de energia; identificar e tratar requisitos legais; identificar prioridades, selecionar objetivos apropriados; estabelecer estrutura adequada e programa de ações para implementar a política e atender aos objetivos e metas; facilitar o planejamento, controle, monitoramento, ações preventivas e corretivas; e auditar e rever atividades para garantir atendimento à política e adequação do SGE.

Procel Info – A norma já começou a ser utilizada em outros países?

Leonardo Martins – Organizações da China, França, Áustria e Índia já relatam ganhos significativos trazidos pelo uso da norma internacional sobre gestão de energia, como reduções em emissões de carbono, consumo e, consequentemente, no custo de energia, benefícios nas fábricas, comunidades e meio ambiente.

Um bom exemplo das melhorias trazidas pela ISO 50001 é a AU Optronics, fabricante de TVs LCD de Taiwan, China. Segundo representantes da empresa, com a implementação da norma internacional, a empresa espera alcançar uma conservação de energia de 10% na fábrica este ano, economizando assim 55 milhões de kWh de eletricidade e reduzindo emissões de carbono em 35 mil toneladas. A organização agora planeja adotar o sistema de gestão de energia da ISO 50001 em todas as suas fábricas.

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